domingo, 18 de dezembro de 2016

Carta para quem amou em 2016

Este não foi um ano fácil, é verdade. Talvez porque tenha sido a própria contradição: demorou, ao mesmo tempo em que voou. E, já que a felicidade é estar onde se está (nem pensando em como será o futuro, nem vivendo do que foi o passado), você pode se sentir orgulhoso. Amor é entrega e é preciso coragem para abrir mão do medo. Quem amou em 2016 pode terminar o ano feliz.
Mesmo aqueles que amaram por uma hora. O ano tem mais de 8 mil horas, mas se uma delas foi de amor intenso – mesmo cego, mesmo burro, mesmo calado – valeu a pena. Porque amor não depende de tempo para ser eterno: se durou 15 minutos ou uma vida é amor, é o mesmo amor.
Também já pode sorrir quem sofreu de amor. Porque isso significa que amou. E amar sempre vale repetir, é um presente. Sofrer de amor faz de nós mais humanos, menos exigentes com a vida e mais certos de que não importa o sofrimento que vai chegar depois: viver é sobre se permitir arriscar.
Termine o ano leve se você ainda ama. Se amou a mesma pessoa desde janeiro, você venceu a pior das armadilhas da rotina: fazer com que o amor se torne tão banal quanto o café da manhã ou o beijo de boa noite. Exercitar o amor é amar sem medidas.
Ter amado mais a si mesmo também é motivo de festa. O convívio mais difícil é o único que não podemos evitar. Relacionamentos terminam, amizades se diluem, paixões esfriam. Mas olhar no espelho é todo dia. Ser gentil consigo e se perdoar é todo dia. Se você conseguiu encarar os seus olhos e sentir verdade no que viu e tem a sensação de estar mais perto de você do que no último réveillon, comemore.
Celebre o amor que sentiu pelos seus amigos. Todas as vezes que se apaixonou pela personalidade de alguém que jamais imaginou gostar, as gargalhadas que dividiu com desconhecidos cúmplices, os carinhos que recebeu depois da saudade quase te afogar. Cada garfada de um prato feito com carinho, todo presente que ganhou sem esperar, as energias positivas que se permitiu mandar para alguém que não esperava. As conquistas suadas de todos os dias, a alegria que sentiu pela promoção de um colega, a sombra que traz um pouco de alívio no calor.
Comemore, sobretudo, se você entendeu que amor não é um relacionamento. É um sentimento que faz tão bem a quem emana quanto a quem recebe. Amor é um jeito de ver a vida que às vezes se confunde com o jeito que vemos alguém. Ainda bem.
Marina Melz - adaptado (http://entendaoshomens.com.br/)

domingo, 9 de outubro de 2016

"São tempos difíceis para os sonhadores..."



"São tempos difíceis para os sonhadores..." 

Essa frase nunca ficou tão evidente como nesses últimos dias... Eu preciso desabafar. Eu vou desabafar...
Enquanto não tivermos os exames básicos e necessários para diagnóstico eficiente das doenças de nossos pacientes, enquanto não tivermos a medicação básica e essencial para nossos doentes, enquanto a medicina for tratada de modo empírico e, infelizmente, muitas vezes paliativas, são as PESSOAS que vão sofrer. São HOMENS, são MULHERES, são IDOSOS, são CRIANÇAS, são HUMANOS.
Me entristece demais o fato de estarmos estagiando em um hospital renomado, com excelentes profissionais, excelentes professores, excelentes pesquisadores... mas que não podem exercer o que foram ensinados, não podem exercer - em sua integridade - o que ensinam... por falta de TUDO. Estrutura, medicamentos, exames complementares...
Os profissionais estão estressados, decepcionados, desmotivados, sem forças... Nos perdoem, tentamos fazer e dar o nosso melhor, mas é realmente TÃO difícil sobreviver sorrindo à tudo isso...
Que Deus nos dê forças para aguentarmos esse dia-dia tão carregado de dificuldades, o dia-dia que queremos fazer o nosso melhor pros nossos pacientes mas não temos nada, só nossa dedicação e força de vontade. Que Deus ilumine as famílias de nossos pacientes que estão falecendo nos hospitais em meio a todo esse caos. Que Deus ilumine os profissionais da saúde como um todo, que nos dê forças sempre para sobreviver e continuarmos sorrindo... e sonhando com dias melhores.

Mirella Cristina


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"Esses dias eu queria ser feliz. Mas, diferente de muitos, eu queria ser ingênuo com a minha felicidade. Queria acreditar que ela é só isso mesmo. E ponto. Esquecer um pouco o dinheiro e os amores, as contas e os maus humores. Ficar ali conversando e, sem pensar, me sentir compreendido e sereno. Mas compreendido de uma maneira que não me faltasse vontade nem coragem de abraço e beijo. De sentar e chorar o que me dói. De rir do que me alegra, mesmo quando o riso for besta. E saber que ali existe amor e calmaria, verdade e simplicidade."

Frederico Elboni

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Carta para ela


Vó...
Tudo bem ai? A senhora não vai acreditar no que aconteceu hoje... na realidade, acho que a senhora até já sabe... Vó, tô desconfiada que foi a senhora que organizou isso! Sabia!
Eu tive um susto quando dei de cara com aquela paciente vó... ela é tão tão tão parecida com a senhora! Vó, elas já me receberam com um sorriso no rosto, braços abertos e dizendo meu nome... A doutoranda que me passou o caso disse pra eu tomar conta dela... Mas vó, ela é tão parecida com a senhora!!!! É incrível como em cada paciente eu vejo um pouco de ti... um pouco do seu sorriso, um pouco do seu olhar, um pouco de suas lágrimas, um pouco da sua expressão, um pouco do seu sono, um pouco da sua voz... Cada paciente meu tem um pouco de ti. Tem um pouco de Deus. E eu os amo como eu a amava. 
A senhora me via tanto nos corredores dos hospitais que a senhora se internava... me chamava mesmo eu estando alguns km de distância ... é engraçado como agora eu que a vejo em cada corredor e cada leito daquele hospital... é engraçado como eu quero cuidar deles como eu queria ter tido a oportunidade de cuidar de ti... 
Que responsabilidade, vó... cuidar de ti... cuidar deles. Me ajuda daí, tá vovó? Eu sei que estás comigo... Eu sinto tanta saudade! 


Eu te amo minha netinha......
(Sim, ainda ouço essa frase com a sua voz vovó... fecho os olhos e sinto... não quero nunca esquecer do som da sua voz...)

Mirella Cristina

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Imensidão - Parte 1


É tão bom se encantar pelas coisas simples e perceber que não é preciso muito para ser feliz...

Hoje comecei meu dia olhando o mar... E realmente esta frase veio a calhar. É engraçado como a gente gosta de complicar as coisas, as pessoas, as ocasiões... Mas demoramos tanto a perceber que o que realmente importa está no simples, no óbvio. Não é preciso muito para ser feliz.

Sim... Eu fui feliz, muito feliz neste primeiro rodízio do meu Internato.
A gente inicia essa jornada com tanto medo, com tanta expectativa, com tanta ansiedade... Aquele famoso medo do novo. Mas hoje, depois dessas semanas todas percebo o quanto a gente pode crescer sem nem mesmo notar. É uma evolução diária junto com aqueles que nos ensinam tanto... Nossos pacientes.

Na medicina de família e comunidade eu aprendi um mundo de novas informações. Aprendi um mundo de especialidades. Aprendi um mundo de medicamentos. Um mundo de patologias. Um mundo de transtornos. Mas também aprendi um mundo de sensibilidade. Aprendi um mundo de sonhos. De anseios. De medos. Aprendi, na prática, a importância real do trabalho multidisciplinar. Aprendi a importância da visita domiciliar. Dos grupos de apoios. Aprendi o mundo do Método Clínico Centrado na Pessoa, o mundo da verdadeira empatia. Aprendi sobre o SUS que funciona, SIM. Aprendi sobre o mundo das pessoas que se doam.

Olho pro mar... Imensidão. Olho pra mim... gratidão.

Mas sei que esse é só o começo... Dessa imensidão de informações, de aprendizado, de conhecimentos, ainda me falta tanto!!

Mirella Cristina

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Para o amor que vai chegar



Já pensei em ter encontrado o amor em muitas pessoas, me joguei em histórias porque realmente acreditei que poderia dar certo. As pessoas foram e deixaram um punhado de cicatrizes. Essas cicatrizes não foram provocadas por elas e sim pelas minhas próprias expectativas.

Talvez eu não estivesse preparada, ou talvez o amor não seja pra mim, talvez me falte aptidão, amar às vezes me soa como um sonho que escolheu continuar sendo sonho e nada mais.

Não falo desses sentimentos com ninguém e agora estou falando para uma pessoa que ainda não existe, talvez você esteja em um sonho distante, enfim, talvez seja só mais uma carta em uma garrafa que irá vagar sem destino, até submergir no tempo.

A esperança é uma maneira poética de envelhecer.

As pessoas não sabem como eu me sinto, todos gostam de dizer que são únicos, mas eles não sabem o quão difícil é não se encaixar, é difícil tentar explicar que eu não sou como outras pessoas, pensar diferente é outra maneira de assumir que sou uma solitária. Eu me sinto estranha, mas sei quem eu sou.

E essa solidão que eu sinto sabe doer. Esse pressentimento que talvez o meu destino seja ficar sozinha.

Essa não foi uma carta das mais felizes, mas talvez você queira dividir a minha tristeza.

P.S Desculpe pelo choro e pelo soluço são duas coisas que eu não aprendi a controlar. Mas você não sabe como é esse sentimento. Meu Deus! Estou escutando a mesma música há duas horas.


(Mas é outro texto que poderia ter sido escrito por mim...)

sábado, 4 de junho de 2016

Auto-conhecimento x Futuro Profissional




A busca pela nossa profissão/especialidade nada mais é do que uma busca pelo auto-conhecimento. Uma coisa puxa a outra. E a serenidade no coração quando a gente começa a nos conhecer melhor e a (re)pensar nas opções do futuro?... 
Tudo começa a se encaixar... tudo começa a fazer sentido. 
E é muito bom sentir isso.

                                                                                                                                                           Mirella Cristina

domingo, 8 de maio de 2016

Cuida de mim, tá?


Vó, hoje foi difícil segurar algumas lágrimas de saudades. 
Acordamos querendo te ligar pra dizer o quanto te amamos e desejando que este dia fosse lindo e doce. 
Vó, hoje, mais do que nos últimos dias, senti a saudade de não te ter mais neste plano. 
Vó, a saudade é grande, imensa, machuca, dói... 
Queria te ouvir cantar pra mim no telefone, queria te ouvir dizer que estava morrendo de saudade, queria te ouvir prometendo que vinha nos visitar quando melhorasse, queria até te ouvir chorar de saudade por estar falando comigo e contando as horas pra me ver. 
Vó, o Santa Cruz foi campeão pernambucano, a senhora tá sabendo?!?! Pois é! Eu queria tanto estar vendo sua reação de felicidade com essa notícia... 


Queria tanto ouvir dizer: Eu te amo tanto minha netinha, tanto...! Vovó está com muitas saudades, viu? 
- Eu sei vovó... eu que sinto tanto a sua falta... Feliz seu dia. Eu te amo vovó. Me escutou né? Eu te amo, vovó! Não, não tô chorando vó, prometo. É só aquele bendito cisco da saudade, sabe? Prometo que já já vai passar... Cuida de mim daí, tá?

Mirella Cristina

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Sobre a Insistência do Amor de Deus

Faz muito tempo que não consigo escrever, não que as palavras me faltem, ou os sentimentos... Muito pelo contrário. Percebo atitudes e pensamentos bem mais maduros nestes últimos tempos, e até mesmo este processo na área sentimental está caminhando. À passos curtos, mas caminhando...! Sobre expectativas, decepções e esperanças? Hmm... Melhor mudar de assunto, né? rs

Hoje quando pensei que tinha que escrever, pensei em escrever sobre Deus, sobre minha Fé, sobre Sua Graça, sobre meus caminhos... E, é claro, não podia negar esse chamado. Afinal, escrever acaba sendo uma forma de meditar sobre nossas próprias palavras e sentimentos, é a melhor forma de nos conhecermos, entrar em contato conosco e, muitas vezes, é a partir das palavras escritas que conseguimos organizar os pensamentos ou o que estamos sentindo no momento. E é isto que quero... E, tenho certeza, é isto que preciso.



Mais uma vez, uma das metas da virada do ano foi fortalecer minha relação com Deus. No entanto, mesmo sem querer, acabei me afastando um pouco da igreja. Como se afastar da igreja e não se afastar de Deus? Eu pensava que seria fácil... Afinal, a fé, o amor e crença que tenho em Deus seriam suficientes para esse processo. Mas não, muitas vezes me vi recebendo Graças e esquecia de agradecer. Algumas vezes até "esqueci" que Ele estava ao meu lado e fazia as coisas sem pedir sua bênção.

Sim, me afastar da igreja, acabou me afastando um pouco de Deus. Algo que pensei que não poderia acontecer... Afinal, a fé não era o suficiente? Não... Mesmo eu mantendo minha fé em Deus fui capaz de esquecê-lo em alguns momentos. Então, hoje percebi que O suficiente mesmo é O Amor Dele por mim. Não é minha fé, é o Seu Amor. É a insistência que Ele tem em me lembrar que Ele está ali... Ele SEMPRE está ali... Que eu posso confiar Nele, que eu posso confiar minha vida à Ele. Esse amor é expressado em todas as Graças que Ele concede a mim e minha família. E, mesmo nas pequenas coisas, Sua presença é nítida! O amor Dele por mim, não tem fim. E eu sei, eu percebi que Ele está insistindo em mim!

Mesmo quando eu acho que não mereço, mesmo quando eu fraquejo, mesmo quando eu me esqueço... OBRIGADA por insistir em mim. OBRIGADA pelo amor que me proporcionas, pois é a partir deste amor que tenho forças para AMAR e ser instrumento do Senhor em minhas missões, experiências e trocas. Afinal, parando agora pra pensar, é este amor que supre o amor que tento sempre oferecer e expressar todos os dias, à todas as pessoas que encontro e em todos os projetos que me envolvo, em todos os pacientes que chegam a mim, em todas as pessoas que me olham... É este amor que me faz acreditar que eu posso fazer a diferença na vida de alguém, pois se o Senhor insiste em mim, eu também posso insistir ...

É... hoje eu só queria agradecer.
Mirella Cristina


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Oração do terço




Tô suave, tô falando de coisas bonitas
Imaginando paisagens, otimista,
Deixando as dúvidas para depois
Iluminando a sorte.
Uma força maior me protege e diz
Que o sonho não morre assim, tenho uma
Coragem que grita e acredita até o fim!
Tô no começo, acordei, quando nasci
Na última oração do terço!


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Uma adaptação para meus medos

Eu nunca me importei em viver histórias de uma noite, desde que eu soubesse disso desde o começo do dia. Eu ainda não sei muito bem lidar com isso. E tenho meus motivos. Foi tanta gente desgraçada que me envolvi nessa vida que passei a acreditar no meu dedo podre. Parecia que tudo que de bom que eu encostava ficava ruim. Muitas foram as vezes em que eu ouvi um milhão de promessas do tipo: “amanhã a gente se fala”, “depois te ligo”, “semana que vem a gente marca de novo” mas que no fim só renderam em mais força pra minha ansiedade que já é invencível; só renderam mais sábados de moletom e meia no sofá com meus seriados. Mas entenda, essa parte nunca foi problema pra mim. Eu sempre me bastei, o problema é quando nos vendem uma ideia que não podem cumprir; é quando te fazem ver um mundo que não vai existir.

E a minha raiva, ou melhor, a minha vontade de matar só aumentava porque não entrava – e não entra – na minha cabeça o porquê de uma pessoa preferir mentir para outra como se mentisse dor de barriga pra não ir pra escola. Eu não quero que fiquem comigo por obrigação, mas eu exijo que eu saiba o que querem, seja o que raios for. Pra mim é tão óbvio que dou risada de nervosismo.

Eu não quero generalizar, mas eu tenho mais motivos para desconfiar do que pra acreditar em alguém. Percebo e aceito as boas intenções de qualquer um. Por outro lado, eu tenho o direito de sentir medo. Tenho medo de contar dos meus planos, contar da minha vida, deixar opinar sobre meus dias, dividir meus problemas e meus prazeres de família, pra depois me ver como um nome riscado daquela lista de metas de pegação e me ver encaixada numa prateleira de brinquedos colecionáveis. E olha, de verdade, eu só falo isso porque já me trataram assim um monte de vezes.

É até injusto com a minha própria vida, eu sei, sou quem deve arriscar pelo meu desejo em ser feliz, mas até lutar pela felicidade é algo que nem sempre dá prazer.

Desculpe, é difícil.

Olha, sabe o que é o mais louco? É que apesar de todas as coisas ruins que já vivi e todas aquelas pessoas horríveis com quem já compartilhei minha vida, eu prefiro continuar arriscando, ainda que não seja possível ver se faz sentido. Sei lá, não sei explicar direito. Essa minha armadura cheia de argumentos contra a dor cai por terra quando vejo meu celular acender por uma mensagem de alguém – por mais simples que seja. É que isso tem a ver com o fato de que podem até tentar acabar com o que sinto, mas nunca acabarão com o que sou; podem arruinar todo o meu sentimento, mas nunca me verão deixar de sentir de novo.

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Eu poderia ter escrito esse texto. Essa é uma adaptação editada para minha vida de "Como acreditar que você não será só mais um?" de Márcio Rodrigues.